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08/05/2011 20h54 - Atualizado em 08/05/2011 22h17

A educação sob a ótica de um médico neurologista

Dr. Fernando  Aloisio  Faccini  Bergmann Dr. Fernando Aloisio Faccini Bergmann
Médico Especialista em Neurologia e Neurocirurgia.

Baseado em vários anos atendendo encaminhamentos de pais e professores e dois anos dando aula e palestras para alunos do terceiro grau, formulei e divido com vocês algumas idéias pessoais sobre baixo rendimento escolar.
O mau desempenho escolar é um problema que tem várias facetas dependendo do prisma que é observado.

Visão do professor
Profissional extremamente desvalorizado e mal remunerado em todos os níveis de ensino, normalmente necessita dar aula nos três turnos para sua subsistência básica, além disso, a sociedade ( pais e alunos) de uma forma geral deixaram de respeitar o status de professor, com múltiplos relatos de agressões físicas e emocionais. Nesse contexto, de uma forma geral é compreensível a incapacidade desse profissional investir na sua formação e conseguir lidar com os múltiplos vetores de pressão das quais sofrem diariamente, sendo assim, um aluno que apresente qualquer alteração comportamental ou de desempenho é apressadamente encaminhado para avaliações de especialistas ou de instituições, sem uma prévia avaliação do contexto do qual a variação do comportamento está acontecendo.

Vista da família
Vivemos uma realidade onde a estrutura dessa instituição básica esta fragmentada, pais separados, sem o auxílio e experiência dos avós, pais onde ambos trabalham o dia inteiro e não conseguem auxiliar, disciplinar e educar as crianças em relação ao hábito de estudar e se comportar em ambiente escolar.

Ponto de vista das autoridades
Vemos o baixo investimento material e de recursos humanos para oferecer atenção diferenciada e especial para aqueles alunos que necessitam de recursos pedagógicos um pouco mais detalhados, além da necessidade eleitoral de demonstrar números como, por exemplo, a questão da não repetência ou de ter tantos alunos aprovados independente do custo individual e coletivo que esse aluno sem condições trará ao avançar nas series como um individuo semialfabetizado. Outro ponto de vista obtuso em relação à educação é que o aluno que apresenta algum déficit de aprendizado, independente do grau, o limite e a velocidade individual que ele necessita para evoluir não é respeitado.
Se esse aluno não consegue aprender da forma tradicional ele está incapaz para tudo, ou seja, quando o aluno se depara com uma dificuldade ou várias dificuldades, existe uma tendência comum de incutir nesse individuo autoestima mais baixa (nem precisava, ele mesmo já se sente assim), mas os adultos envolvidos salientam os erros e dificuldades e esquecem que talvez aquela criança tenha outras habilidades a serem desenvolvidas como as manuais ou artísticas e com estas poderia evoluir muito bem física e mentalmente. Outra particularidade é o estimulo que foi dado, por exemplo, se deslocarmos uma criança indígena para o convívio urbano (computadores, celulares, trânsito...) durante sua fase adaptativa, o seu rendimento será de retardo e vice versa, colocando uma criança urbana numa aldeia indígena (habilidades com animais, pescaria, forma de se alimentar, se deslocar no mato, etc...) também seria considerada e taxada por seus pares como incapaz.
Em resumo, quando uma criança apresenta dificuldade no desenvolvimento escolar nós temos que ampliar nosso olhar, provavelmente os fatores causais são múltiplos. Devemos atentar para o ambiente familiar, se é estável ou instável, escolaridade dos pais, condição financeira, nutrição, perfil emocional individual, pressões do grupo (bullyng), capacitação da escola e professores, história de problemas ou doenças Peri natais e no primeiro ano de vida, acuidade visual e auditiva, estimulo dado, ou seja, lidar com baixo rendimento escolar é tarefa complexa e necessita de equipe multidisciplinar para o correto encaminhamento e resolução do problema.

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Muito bem analisados. Sou prof estadual e estou terrivelmente desanimada com o ensino e com os alunos. Nós não podemos fazer muito é preciso melhores salários, condiçoes etc. Att. Liz

Liz connery - 17/07/2014 14h08

Sou Coordenadora Pedagógica de uma Escola Pública e parabenizo o Dr.Fernando Bergmann pelas orientações relatadas .É exatamente este o processo avaliativo que fazemos quando nos deparamos com alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem.Após o processo avaliativo encaminhamos quando necessário aos especialistas para maiores detalhes.

Alice Mizusaki - 26/02/2012 14h53

Sábias as palavras do MESTRE Bergmann. Parabéns!

Nerci Antônio Spohr - 09/05/2011 22h38

 

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