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17/10/2021 09h38 - Atualizado em 17/10/2021 10h25

Ah... esses tucanos

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor

Os tucanos do PSDB decidirão, em poucas semanas, quem, da sua segunda geração de quadros políticos, Eduardo Leite ou João Dória, será o seu candidato a presidente em 2022.

Até aí tudo normal.

Tudo dentro do direito legítimo do maior partido da direita liberal brasileira de colocar o seu candidato para disputar a eleição presidencial do ano que vem.

A questão principal não é quem dos dois será o candidato.

A questão de fundo é outra.

A segunda geração de tucanos, representada pelas figuras de Leite e Dória, guarda uma diferença em relação à geração original e primeira dos tucanos - enquanto aqueles ainda tinham uma veia social-democrata, estes tem uma linha pura neoliberal.

Tanto Dória, quanto Eduardo Leite, tem em seus discursos e suas práticas de governo uma linha mestra de aplicação pura e fria do receituário neoliberal.

E sendo assim ambos, e considerando o quadro de ruína econômica e social - principalmente social - do país que passou por dois anos e pouco de governo de Temer, e passará por quatro anos de governo de Bolsonaro, a pergunta que se coloca de cara é: seja um ou seja outro, o que de diferente eles têm a propor para o país, especialmente para os milhões de brasileiros que tem vivido em dificuldade e carência, maior ou menor ?

O que de diferente o PSDB tem a propor, já que foi, e é, parte ativa e corresponsável do quadro de ruína econômica e social que o país vem amargando de 2016 para cá?

Corresponsável sim, porque o PSDB participou do governo de Michel Temer.

Corresponsável, porque a quase totalidade dos projetos do governo Bolsonaro teve votos favoráveis dos deputados e senadores tucanos no Congresso Nacional.

Considerando essa participação e esse grau de corresponsabilidade na situação atual do país, e o perfil dos pré-candidatos tucanos, não há nada que os tucanos tenham a propor, que já não o tenham feito, com consequências ruins para a maioria da população do país.

Tanto Dória quanto Eduardo Leite brilham seus olhos para falar de reforma administrativa, realizar privatizações de empresas públicas estratégicas, e promover ajustes fiscais, independente do sacrifício de políticas públicas de cunho social, ou de desconcentração de riqueza.

Isso é o que faz ambos atingirem o Nirvana da sua satisfação política.

Na mesma intensidade desse gosto, vem a ausência de atenção e foco de ambos, no que diz respeito ao preço dos alimentos, ao preço dos combustíveis, às altas taxas de desemprego e informalidade, às demandas da agricultura familiar, à condição de queda de investimentos na educação pública, e assim por diante.

Quer dizer o seguinte:

O que faz João Dória e Eduardo Leite virarem os olhinhos de alegria e satisfação é aquilo que agrada ao mercado financeiro e os grandes detentores do capital. Mas aquilo que diz respeito à vida da dona Joana que mora na periferia, ao Seu José que mora na favela, ou ao seu Raimundo que tem sua terrinha no interior (onde produz alimentos, e não commodities), isso não interessa em absolutamente nada a nenhum desses pré candidatos tucanos.

Ou seja: para a dona Joana, para o seu José, e para o seu Raimundo, Dória e Leite não têm nada que lhes interesse.

Nenhum deles está interessado em ajuste fiscal, reforma administrativa ou privatizações.

O negócio deles é trabalho, comida a preço acessível na mesa, filhos podendo ter a possibilidade de estudar, botijão de gás a preço justo, programas que ajudem a produção de alimentos da agricultura familiar, etc.

E para isso, nem Leite, nem Dória, têm palavra alguma que valha mais do que a prática de seus atuais governos.

É na prática do governo do Estado do Rio Grande do Sul e do governo do Estado de São Paulo, que as populações desses estados, bem como do restante do país, podem ver nitidamente o que importa e para quem eles governam, e com que objetivos.

Querer ser terceira via, querer ser novidade, quando na verdade os tucanos apenas são uma versão mais polida e dissimulada do mesmo projeto econômico que já está acontecendo no país com Bolsonaro - isso não vende, isso não cola, caros moços tucanos.

O que vocês têm para vender não é o que a maioria da população brasileira quer comprar.

Vocês não sabem nada da vida de quem sofre, da vida de quem tem ausência, da vida de quem tem carência, da vida de quem tem sua cidadania negada.

O mundo de sapatênis onde vocês pisam é outro.

Quando vocês aprenderem alguma coisa que sirva para a maioria dos brasileiros, quem sabe vocês consigam crescer.

Por enquanto, são apenas tucanos requintados e polidos, fiéis executores daquilo que o Deus mercado quer. 

De resto, da vida dura do povo vocês não sabem nada. Já dizia Lupicínio Rodrigues....

" Esses moços...pobres moços...

Ah! Se soubessem o que eu sei..

Não amavam, não passavam,

Aquilo que eu já passei....".

Vida que segue, tucaninhos.

Nosso caminho é outro.

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Esse governador do RS, administrou e administra muito mal nosso estado. Como o povo confiará numa pessoa para ser o presidente de nossa nação? Fora políticos corruptos!

Nilza Zimmermann - 17/10/2021 22h37

Muito interessante este texto. Os tucanos antigos já têm suas caras conhecidas pela corrupção. E os mocinhos estão vindo com as carinhas de diabinhos novos. Vou compartilhar teu texto amigo.

Noemi de Araújo Bauer - 17/10/2021 18h46

Exatamente! A direita arrumadinha, no fundo a política é a mesma. Só muda o jeito de falar.

Neusa Machado - 17/10/2021 14h59

Claríssima, verdadeira a avaliação! O povo também pensa assim? O Leite se elegeu mentindo, iludindo a gauchada. O quê irão criar para iludir a quem não os conhece?

Terezinha - 17/10/2021 12h21

 

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