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08/03/2011 10h32

Ditadura da beleza: um perigo à dignidade humana das mulheres

Rosângela Angelin Rosângela Angelin
Doutora em Direito, Professora do Curso de Graduação em Direito da FEMA e dos Cursos de Graduação e Mestrado em Direito da URI - Campus Santo Ângelo, pesquisadora sobre relações de gênero, militante feminista e integrante da Marcha Mundial de Mulheres.

No decorrer da história da humanidade percebe-se que os padrões de beleza modificaram-se. Assim, houve momentos em que ser “gordinha” foi sinônimo da mais elevada beleza, o que não ocorre atualmente. Dentro dos padrões de beleza de uma sociedade, a mulher continua sendo o alvo mais visado da “estética” corporal dominante. Um dos motivos que levam as mulheres a estarem tão atentas aos seus corpos está relacionado ao fato histórico de que, em algumas épocas à mulher não era permitido participar da vida pública e intelectual, sendo que, então, ela utilizava de seu corpo como forma de expressão e busca de reconhecimento social. Porém, a valorização do corpo físico tomou proporções assustadoras nos últimos períodos.

Atualmente constata-se uma corrida desenfreada para as academias de ginástica e para a medicina estética. O uso de produtos dietéticos para emagrecer, a anorexia e a bulimia revelam uma espécie de “ditadura da beleza” à qual a maioria das mulheres se condiciona em busca de um corpo “perfeito”. Antes considerada um atributo da natureza, a beleza passou a ser encarada como uma questão de “conquista” e, nesta lógica, é necessário investir muito dinheiro e tempo no corpo a fim de se alcançar a aprovação da sociedade. Diante disso, a beleza, ou melhor, a “feiúra” tornou-se um mercado muito lucrativo, o qual usa as mulheres “bonitas” para vender produtos de beleza para as mulheres ditas “feias”, para um dia estas se tornarem bonitas.

Os grandes meios de comunicação social vêm desempenhando um papel decisivo, através de revistas, jornais, comerciais, novelas e programas em geral, contribuindo, desta maneira, com a afirmação de um padrão de “beleza” físico. Um exemplo são os programas de televisão, principalmente os humorísticos, onde as mulheres são apresentadas, em sua grande maioria, como figuras bonitas e atraentes, porém, imbecis, desprovidas de ideias e vontades. Constantemente, em contraste a esta figura, encontra-se uma mulher feia. Esta, por sua vez é apresentada como uma pessoa chata e desinteressante, embora, algumas vezes dotada de certa inteligência. Estes estereótipos reforçam a ideia de que são somente os “dotes físicos” de uma mulher que realmente importam. O lamentável é que toda essa desvirtuação tem contribuído para a morte de muitas mulheres (principalmente jovens) que, na busca de um corpo perfeito, tornam-se anoréxicas. A ideologia de “beleza física” acaba gerando uma inversão de valores, nos quais a busca por um corpo perfeito é considerada um sinônimo de aceitação social, geralmente confundida com a felicidade.

Embora as mulheres, ao longo de muitos anos, com muita luta e persistência, tenham conquistado direitos e se afirmado em vários espaços da sociedade, lamentavelmente, ainda é “normal” continuarmos sendo vistas e consideradas pelos contornos físicos de nossos corpos, o que evidencia um empobrecimento da capacidade de olhar o ser humano. Maria Rita Kehl, afirma com muita propriedade que“a maior beleza está no corpo livre, desinibido em seu jeito de ser, gracioso porque todo ser vivo é gracioso quando não vive oprimido e com medo. É a livre expressão de nossos humores, desejos e odores; é o fim da culpa e do medo que sentimos pela nossa sensualidade natural; é a conquista do direito e da coragem a uma vida afetiva mais satisfatória; é a liberdade, a ternura e a autoconfiança que nos tornarão belas. É essa a beleza fundamental.”

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Muito engraçado, uma autora cuja aparência está completamente dentro dos padrões estéticos dominantes criticando a "ditadura da beleza". Uma "crítica" deste tipo não pode ser levada à sério. Na prática, nem a autora nela crê.Esta fratura entre crítica teórica e crítica prática é típica da sociedade atual e seus sacerdotes acadêmicos.

Lucrécio Borges - 28/02/2012 04h47

Profe, como sempre, muito bom teu artigo. Parabéns! Espero ver outros artigos teus aqui no Zulupa, assim matamos um pouco a saudade das tuas aulas. Abraços!

Ana Paula Knecht - 11/03/2011 08h51

 

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