zulupa.com.br
sexta-feira,3 de maio de 2024

Colunas / Variedades

 

16/06/2011 19h24

Solidão coletiva e sites de busca

Sávio Hermes Sávio Hermes
Advogado e Escritor.

Não sei ao certo a associação ou mesmo a química que possa existir entre o sentimento de solidão que abarrota o noticiário e a onipresença de sites de busca em nossas vidas. A velha história da contradição que reina em todos os cantos de nossas vidas. Contradição tão contraditória que por vezes perdemos o fio da meada e propriamente nos perdemos.
A opinião, de sofrida e censurada existência, hoje reina. Há milhões de técnicos de futebol; incontáveis administradores da empresa alheia; juízes da moral e dos bons costumes frente a cena picante da novela. Gente descolada, sem idade; de idade omitida; de idade esquecida; de idade mascarada; de idade plastificada - um jovem maduro. Velho ou idoso foram os antepassados, atualmente todos são enxutos e capazes de correr uma maratona e cursar a faculdade adiada a tanto tempo.
E será que existe alguma proporção entre conhecimento (universidade) e o aumento do sentimento de humanidade? Na dúvida, e ela sempre está presente, vamos ver o que o meu site preferido de busca me indica. Opa, bingo. Aproximadamente 686 resultados para a busca em apenas 0,15 segundos. Nenhum pai, professor, motorista de táxi seria tão rápido e capaz de oferecer tantas alternativas.
Claro que vou demorar bem mais de 0,15 segundos para acessar e ler todos os 686 resultados, que por sua vez indicam outros e outros e outros, que esqueço o almoço, a janta, de dormir e por fim, não encontro resposta. São todos esboços de teses de mestrado, que dizem, em suas entrelinhas, que devo seguir a minha intuição.
Bom, ai se passou séculos e achamos que reinventamos a roda. Com os recursos tecnológicos deveríamos ter mais tempo para sermos nós mesmos. Não preciso dizer que isto não aconteceu. Quem ganhava R$ 10,00, tendo mais tempo, entendeu que poderia ganhar R$ 30,00. O ócio é substituído por um bico para engordar a receita e pimba - acabou o dia, a semana, o mês e olha o ano novo aí gente!
Mas e a solidão. Sei lá. O certo é que me sinto sozinho. Na fila de carros esperando para dobrar a direita no modulo da brigada militar, existe uma coletividade de automóveis e uma distancia infinita entre seus motoristas. Não quero conhecer e nem saber de quem se trata, se der um espaço, ultrapasso e vou embora.
Li uma matéria sobre uma depressão que está havendo na Grécia, devido a expectativa econômica em que viveram e a ressaca na qual se encontram. O que sinaliza que tudo repercute em nossa mente. Deveríamos colocar um psicanalista em cada esquina, em cada parada de ônibus, em cada mesa de bar, na padaria e na fila do supermercado.
Não nos basta um ouvinte normal, um mero ombro amigo. Pelas informações que busquei no meu site favorito, argumento no que for preciso, fundamento e sei qual a origem da minha patologia, portanto, não queira me enganar. Aquele conhecido de infância, se não tiver ao menos uma pós-graduação não serve.
A novidade daqui para diante será o cidadão que desconhece tudo - não sabe que a previsão do tempo nunca acerta; fuma compulsivamente; toca guitarra com raquete de tênis ou vassoura na frente do espelho; come toucinho com maionese para ficar com aparência de saudável; cria galinha e porcos no pátio e não titubeia em jogar lixo pela janela do carro.
A solidão? A solidão é uma escolha consciente ou não. Agrava a saúde pública, mas infla os lucros da indústria. Enquanto uns proclamam a felicidade, outros engolem a paroxetina da libertação. Casa para um, mesa para um, carro para um. Compartilhar com a cara metade, dividir o pé e a bunda gelada, superar a apnéia do sono deveriam ser coisas naturais, mas se tornaram um tormento, uma vez que possa buscar alguém que se encaixa mais no meu perfil.

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comente estE ARTIGO

Mensagem
Nome
E-mail*
   
  * não será publicado.

 

Soluty Zulupa.com.br © 2010. Todos os direitos reservados.
contato@zulupa.com.br - (55) 99700 5946 / 99613 5633