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17/08/2011 16h06 - Atualizado em 18/08/2011 16h31

Menos jornalistas, mais vereadores

Felipe Dorneles Felipe Dorneles
Jornalista, especialista em Gestão de Marketing.

Já deve ser de conhecimento de vocês a decisão da Câmara de Vereadores de Santa Rosa quanto a aprovação de novos cargos, através de concurso público, na prefeitura local. Foi solicitada pelo Executivo a criação de cinco vagas de agente administrativo, uma vaga para engenheiro agrônomo e uma vaga para recepcionista, além da criação de mais duas funções gratificadas - FG. Estava incluída ainda uma vaga para jornalista, excluída pela maioria dos vereadores após emenda do vereador Cláudio Schmidt (PMDB).
Colegas, vivemos um processo coletivo de disseminação de informações com um único objetivo, o desenvolvimento de nossa região.  Penso que vivemos na imprensa regional um grande momento, onde a experiência de profissionais que há décadas fazem comunicação e jornalismo em nossa região dá boas vindas aos novos profissionais, com formação acadêmica. Esta duas esferas atuam juntas, em um grande case de troca de experiências, pelo qual conseguimos cumprir nossos papéis como comunicadores, junto da comunidade.
No ano em que Santa Rosa comemora 80 anos de emancipação política e administrativa, parecia haver uma maturação. Parecia que nossa classe viria a ser reconhecida, sendo ‘beneficiada’ por um cargo público específico para a função, um profissional diante de mais de mil servidores na área administrativa da prefeitura: um jornalista.  Santa Rosa estaria seguindo o exemplo de centenas de órgãos públicos - Ministérios, estatais - e empresas privadas, multinacionais - que já possuem esta prática, e contratam profissionais para atuar na gestão da comunicação interna e externa de suas organizações.
Pois então, tal desejo termina quando um vereador, sem algum embasamento técnico nem acadêmico, acredita que não é necessária a criação desta vaga. Cria uma emenda pedindo a exclusão APENAS desta vaga, e justifica tal ação com elementos banais, com justificativas vagas, de alguém que não sabe o que fala e o que quer com tal ato.
Os vereadores Nelci Dani, Douglas Calixto e Denir Frosi, do PP, votaram contra a vaga, dizendo que ‘me parece que não tem necessidade’ ou ainda, ‘não precisa desta vaga’. O vereador Cláudio Schmidt foi além. Ele justificou que a prefeitura já possui uma estrutura de comunicação, mas apesar de ter elaborado uma emenda para retirar a vaga, não foi capaz de descobrir a real denominação da Assessoria de Imprensa da prefeitura. Disse em seu discurso que a prefeitura já possui uma 'assessoria jornalística' estruturada. Termo este que não existe na área da comunicação. Disse que a prefeitura gasta ‘350 mil REAL’ na contratação de uma empresa de Porto Alegre para serviços na área de jornalismo. Nosso vereador não sabe distinguir um serviço de jornalismo de um serviço publicitário.
A agência contratada pela prefeitura é responsável pela negociação de mídia, criação de material gráfico, spots, vt’s, etc, tarefas que não competem a um jornalista, por isto não executado na prefeitura. Além disto, a empresa foi contratada através de licitação, a qual eu também participei como profissional da comunidade avaliando os trabalhos dos concorrentes da licitação. Se a mesma teria alguma irregularidade, cabia a ele como vereador, no ano passado, investigar o caso. Ainda é tempo vereador, para investigar esta licitação e esta empresa, mas por que excluir a vaga?
Ele justifica ainda dizendo que na prefeitura há jornalista com status de secretário, o que não procede. Diz que há três profissionais, o que não procede. São dois, e dois com cargos de confiança, nenhum servidor do município. Isto impossibilita o seguimento de um trabalho, que pode ser estendido para além de assessoria de imprensa, podendo trabalhar com comunicação interna, qualificando os processos de comunicação entre os servidores, qualificando também o atendimento à população. Estas tarefas também parecem não ser conhecimento deste vereador. Deixo claro que de forma alguma questiono o cargo da jornalista Lisandra Steffen, que comanda a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Santa Rosa, que realiza um excelente trabalho junto da imprensa local.
Em sessão nesta segunda-feira, na Câmara de Vereadores, Cláudio Schmidt disse em seu discurso que trocou o voto no momento da sessão. Contraditório, já que muito antes ele já havia tomado sua decisão, quando transcreveu documento solicitando a exclusão da vaga de jornalista. No discurso ele ainda diz: ‘A Lei de jornalista ta fácil, só precisa ter primeiro grau incompleto’. Todos sabemos que qualquer servidor precisa pelo menos ser alfabetizado. Mas, me questiono, essa lei vale para ocupar o cargo de vereador? E primeiro grau não existe mais, amigo vereador, é Ensino Fundamental. Ele desvalorizou publicamente uma classe, uma categoria profissional que busca apenas o desenvolvimento de nossa região. Colegas da imprensa, precisamos defender o nosso trabalho, defender a nossa classe!
Não sou sindicalista muito menos alguém que queira mudar o mundo, mas coisas como esta acontecem pois não há mais de 20 pessoas a cada sessão no Legislativo. Executivo e Legislativo fazem tudo como querem, sem a comunidade sequer saber o que lá acontece. Esta ação atingiu minha categoria profissional, por isso achei que fosse o momento oportuno para escrever e compartilhar esta indignação com vocês.
Mas a grande questão que fica, é o porque APENAS a vaga de jornalista foi excluída. Se já existe mais de 100 agentes administrativos concursados na Prefeitura de Santa Rosa, por que não se excluiu as cinco vagas de agentes solicitadas, mas apenas a vaga de jornalista, a qual não possui nenhum concursado.
No momento em que os vereadores votam pela ampliação de mais 5 cadeias no Legislativo, o que corresponde a criação de mais cinco cargos de assessores, e na ampliação do prédio da Câmara, sem consultar a comunidade, rejeita-se a criação de um cargo de jornalista na prefeitura. Os gastos com a ampliação no número de vereadores correspondem a um montante de R$ 40 mil mensais. Este seria o custo para manter um jornalista na prefeitura durante quase dois anos.
Colegas, este é meu protesto. Vocês podem ouvir a gravação da sessão na Câmara de Vereadores desta segunda-feira no link http://www.camarasantarosa.rs.gov.br/. O RBS Notícias desta terça-feira também abordou o caso. Veja no link http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=202474&channel=45. Este relato também estará postado em meu perfil no Facebook. Uma boa semana de trabalho a todos.

 

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Comentários

Realmente infeliz esta declaração do vereador. Acho que para uma pessoa se candidatar a vereador, no mínimo deveria ter alguma graduação. Quem não acrecenta nada para o povo é ele, pois pouco ou nada faz para melhorar nossa cidade. Lembraremos dele e de alguns outros no ano que vem nas eleiçoes.

Marles - 04/09/2011 20h40

O depoimento do Cláudio Schmidt: "cargo de jornalismo não acrescenta nada em nossa comunidade" me lembrou muito outra pessoa que comentou sobre o aparecimento de jacarés em Três de Maio: "tem que matar estes animais que não servem pra nada". Infelizmente, em Santa Rosa e região, grassa este tipo de ignorância. Para eles jornalista é um tipo de bixo

Ricardo Almeida - 18/08/2011 19h46

Sou à favor que tenhamhos quinze Vereadores ou até mais. Mas nunca com estes salários. Vereador virou profissão! Este valor gasto em salários e diárias (que coisa bem inventadada!), favor usar para tapar os buracos que aliás servem também para sepultar mantatos! No Executivo e Legislativo! Disse!

PAULO SCALCO - 18/08/2011 19h15

"Devemos votar por cargos que beneficiem nosso povo. Não votar em um cargo de jornalismo que não vem a acrescentar nada em nossa comunidade"... Depoimento do vereador Cláudio Schmidt (PMDB) na sessão da Câmara do dia 08 de agosto sobre a vaga de jornalista na prefeitura de Santa Rosa. Cabe a pergunta: de que tipo de benefício ele se refere?

Jaqueline - 18/08/2011 08h32

No mínimo, triste o episódio. O referido vereador e todos que o apoiaram, são tão ignorantes que faltou dizer que jornalista precisa só ter 1º grau INCOMPRETO! Gente assim nao deveria ocupar lugar de representante do povo, muito menos qq lugar na sociedade.

Danusa Widz - 18/08/2011 08h21

Perfeita colocação, muito bem esclarecida e ótimo embasamento. Ja tinha lido esse assunto e agora percebo que tem gente sem conhecimento algum, que aprova ou desaprova as coisas. Que pena ser assim, mas é a gente, o povo, que elege essas pessoas. Sou da idéia de vereador ter no mímino uma graduação. O cara que nao tiver nem peça meu voto.

Jardel Soares Pinto - 17/08/2011 20h35

 

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