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27/09/2011 23h34 - Atualizado em 30/09/2011 10h05

Ser Feliz entre o ‘Eu’ e ‘Nós’

Roberto Colpo Roberto Colpo
Graduação em Direito pela FADISA, especialização em Direito Civil e Processo Civil pela URI, especialização em Direito Ambiental e Urbanístico pela LFG. Atualmente é advogado - Escritório de Advocacia Roberto Colpo. Tem experiência na área de Direito Ambiental, Direito Privado, Direito Público e Direito Eleitoral com 8 anos de experiência como Procurador Geral do Município de Santa Rosa/RS.

A era contemporânea possui características singulares de comportamento humano, entre as quais podemos identificar um elevado comprometimento do indivíduo consigo mesmo, quase uma obrigação de alcançar o fim de “ser feliz”.
Todos os dias somos bombardeados por mensagens, propagandas, slogans, palestras, propostas, merchandising, entre outros, que nos impulsionam a um único pensamento: "Eu posso ser feliz! Eu devo ser feliz! E eu tenho o direito de ser feliz!"
Não há mal visível na proposta, porém há um efeito invisível circundando-a.
Trata-se do culto ao individualismo, do expurgo do outro de nossas vidas, das ações descompromissadas com seus efeitos sociais, dos excessos sem culpa, enfim, do egoísmo.
É inevitável tal constatação, porquanto esses efeitos são sentidos na coletividade. À medida que aumentamos nosso acesso aos bens de consumo pelo proporcional aumento do poder de compra e diversidade, caminhamos em direção ao objetivo de ser feliz (realizando-se no ter), e aumentam as desigualdades sociais, a distância entre as pessoas.
Preferimos não olhar para o lado, afinal temos o direito/dever de sermos felizes. Pelo menos os meios de comunicação e os marketings de vendas propagandeiam essa máxima.
Envelhecer, por exemplo, dentro da proposta referida (ser feliz a qualquer custo), se tornou um castigo, e cada vez mais consumimos produtos da fonte da juventude prometida. Cada vez mais não vemos jovens e velhos misturados em ambientes sociais, parecendo segregação. Como exercer a solidariedade com um ‘castigado’ infeliz? Difícil.
Com efeito, a lógica da vida em sociedade, onde dependemos uns dos outros, deveria nos obrigar a tomar decisões e fazer escolhas dentro de uma ética que não ferisse a coletividade, inclusive reduzindo ou freando nossa volúpia individual quando seus efeitos fossem danosos à coletividade.
Nossos apegos que se transformaram em nossos valores não deveriam se sobrepor àqueles cristalizados pelo conjunto maior da sociedade, que existe como organização para a civilidade e continuidade organizada.
Então porque isso não está acontecendo? Porque o individualismo não perde espaço para o solidarismo?
Os sintomas são claros na sociedade, não há mais manifestações contrárias às questões de efeito coletivo, como corrupção; não há mais lutas por avanços sociais diversos; os governos reinam absolutos, sem oposição significativa, não há mais ponto em comum a ser defendido; e a solidariedade só se manifesta se houver consagração pública do doador.
Temos direito de ser felizes sim, mas quando o nosso direito se choca com o dos outros ou da coletividade, devemos abrir mão em vista desta coletividade, bem como ao efeito de não causar sofrimento alheio.
Se assim não o fizermos e não olharmos o outro, virá o tempo em que não haverá ninguém por nós e as liberdades conquistadas correrão o risco de extinção em face dos abusos, sofrimentos e penúria que desejamos não ver e sentir.

 

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