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19/01/2012 22h21 - Atualizado em 23/01/2012 20h23

Ignota Sapiência

Gerson Miguel Lauermann Gerson Miguel Lauermann
Contador, Consultor, Especialista em Comércio Exterior e Mestrando em Administração Estratégica de Negócios; Coordenador do Departamento de Cultura e Educação da FEBAP Brasil; Sócio-fundador e ex-presidente da ALMA – Associação Literária Mário Quintana de Santo Cristo; tem publicação em livro de contos regionais e em conjunto com outros autores em obras a nível nacional. Compositor de poemas nativistas gravados por Careca e Darlan Ortaça, Emmerson Gottardo, Mauro Dias e Berico de Miguel.

Seu Finório passou a infância colecionando quinquilharias. Começou colecionando pedrinhas, que encontrava nas roças e nos potreiros; mais tarde, colecionou tampas de garrafa e figurinhas de chiclete.
Quando iniciou seus estudos, aí recém veio o verdadeiro gosto pela atividade de colecionar. Primeiro os livros. Depois quadros, peças de arte, selos, cédulas. Dizem as más línguas, que a única coleção que não fez, foi de mulher, pois namorou apenas uma e não logrou êxito em sua atividade amorosa, dedicando-se tão somente às demais coleções.
A habilidade marceneira rendeu-lhe lindas obras de arte. Anjos, mulheres, animais e tudo mais que a imaginação poderia lhe afortunar, entalhava na madeira.
A casa, grande, herdada dos pais - que foram cedo -, servia de exposição para suas coleções. Poucos e privilegiados amigos tinham acesso e, mesmo assim, somente após terem lido o “regulamento” da casa. Empregada, não tinha. A roupa, mandava uma vizinha lavar. A casa e suas obras, ele mesmo limpava.
De parentes, pouco se sabia. Nunca tinha recebido visitas de primos, nem em segundo grau. Seus pais não lhe falaram de parentes.
Por puro acaso do destino, apesar de levar vida regrada, no que tange a alimentação e exercícios físicos, quando virou qüinquagenário, mas com sabedoria centenária, foi chamado pelo Pai Celestial.
Velório, tristeza. Pouco mais de vinte pessoas presentes. O padre lembrou da intensa atividade cultural de Seu Finório e lamentou não existir testamento de tão vasta herança cultural.
Os poucos amigos que semeou em sua curta trajetória, tristes levavam o esquife para o cemitério, quando, na porta da igreja, duas figuras estranhas, aguardavam. Eram primos do Seu Finório. Apresentados os documentos, decidiu-se, neste momento o destino da herança. Choro falso dos primos. Verdadeiro dos amigos, temendo o destino das obras.
Escândalos no cemitério. Roupas extravagantes. Brincos. Pircings. Tatuagens. Fala difícil. Gírias.
Três dias. Os primos separaram tudo. Os livros foram vendidos “por quilo” para uma empresa de reciclagem. As obras em madeira e os quadros arderam na lareira. A casa, vendida a “preço de banana”.
Ao final do terceiro dia um dos primos comentou: - Se soubéssemos que o primo, este tal de Finório, tivesse somente estes cacos, nem teríamos vindo reclamar a herança.
- É, o que salvou foi a casa. Comentou o outro.

IGNOTA SAPIÊNCIA

 

 

Seu Finório passou a infância colecionando quinquilharias. Começou colecionando pedrinhas, que encontrava nas roças e nos potreiros; mais tarde, colecionou tampas de garrafa e figurinhas de chiclete.

 Quando iniciou seus estudos, aí recém veio o verdadeiro gosto pela atividade de colecionar. Primeiro os livros. Depois quadros, peças de arte, selos, cédulas. Dizem as más línguas, que a única coleção que não fez, foi de mulher, pois namorou apenas uma e não logrou êxito em sua atividade amorosa, dedicando-se tão somente às demais coleções.

A habilidade marceneira rendeu-lhe lindas obras de arte. Anjos, mulheres, animais e tudo mais que a imaginação poderia lhe afortunar, entalhava na madeira.

A casa, grande, herdada dos pais - que foram cedo -, servia de exposição para suas coleções. Poucos e privilegiados amigos tinham acesso e, mesmo assim, somente após terem lido o “regulamento” da casa. Empregada, não tinha. A roupa, mandava uma vizinha lavar. A casa e suas obras, ele mesmo limpava.

De parentes, pouco se sabia. Nunca tinha recebido visitas de primos, nem em segundo grau. Seus pais não lhe falaram de parentes.

Por puro acaso do destino, apesar de levar vida regrada, no que tange a alimentação e exercícios físicos, quando virou qüinquagenário, mas com sabedoria centenária, foi chamado pelo Pai Celestial.

Velório, tristeza. Pouco mais de vinte pessoas presentes. O padre lembrou da intensa atividade cultural de Seu Finório e lamentou não existir testamento de tão vasta herança cultural.

Os poucos amigos que semeou em sua curta trajetória, tristes levavam o esquife para o cemitério, quando, na porta da igreja, duas figuras estranhas, aguardavam. Eram primos do Seu Finório. Apresentados os documentos, decidiu-se, neste momento o destino da herança. Choro falso dos primos. Verdadeiro dos amigos, temendo o destino das obras.

Escândalos no cemitério. Roupas extravagantes. Brincos. Pircings. Tatuagens. Fala difícil. Gírias.

Três dias. Os primos separaram tudo. Os livros foram vendidos “por quilo” para uma empresa de reciclagem. As obras em madeira e os quadros arderam na lareira. A casa, vendida a “preço de banana”.

Ao final do terceiro dia um dos primos comentou: - Se soubéssemos que o primo, este tal de Finório, tivesse somente estes cacos, nem teríamos vindo reclamar a herança.

- É, o que salvo

 

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Comentários

Realidade pura na maioria das vezes.O descaso, a incompreensão e a máxima,poeta bom poeta morto, acompanham a arte cada vez mais neste século onde o que vale é o dinheiro e o status adquirido sabe-se lá como.Conheço um caso real quase igual a este.... Muito bom o texto! Parabéns Gérson Miguel Lauermann.

luciane miranda - 03/03/2012 08h20

 

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