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18/03/2012 23h59 - Atualizado em 19/03/2012 00h04
Sobre o Dia das Mulheres e o Dia do Ser Humano
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Sidinei Cruz Sobrinho
Diretor de ensino e professor efetivo do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Farroupilha - Campus Santa Rosa; Graduação em Direito – FAPLAN (2009); Mestrado em Filosofia – PUCRS (2004); Especialização em Direitos Humanos - CESUSC (2002); Graduação em Filosofia - URI (2001); Curso Seminarístico em Filosofia – IFIBE (2001).
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O dia internacional da mulher foi proclamado durante a 2ª conferência de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhage em 1910. É uma data de mobilização e luta das mulheres pela conquista de direitos. A data é uma homenagem às 129 operárias de Nova York, mortas queimadas em reivindicação por melhores salários e condições de trabalho.
É importante relembrarmos por que foi proclamado o dia internacional da mulher. Não é um dia de comemorações festivas como o carnaval, a páscoa, o natal, o dia das mães... É uma data de mobilização e luta por direitos.
Quero, no entanto, chamar a atenção sobre os significados que damos a estas datas, dia da mulher, dia do índio, dia pela eliminação da discriminação racial ... Aliás, se olharmos em alguns calendários todo dia é dia de alguém ou de algo. Como diz o ditado: “Há um santo para cada dia” (e se formos olhar o calendário católico, veremos que há muitos casos em que há mais de um santo para o mesmo dia). Por que tantas datas?
Lembrando as “companheiras” e “companheiros” dos movimentos sociais, de todas as classes, raças e credos, qual o objetivo pelo qual nos mobilizamos: os direitos humanos. Tudo bem se designarmos datas específicas para atos específicos e mais focados na exigência de um ou outro direito. Mas não se pode esquecer que no objetivo maior estão inclusas todas as pessoas, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, homens... inclusive as não pessoas: meio ambiente, animais etc. Mobiliza-se para se reivindicar direitos humanos, econômicos, sociais, culturas e ambientais.
A consciência desse objetivo nos permite evitar que se organizem grupos isolados, reivindicando direitos privados. Alguém nega que há grupos que reivindicam, por exemplo, o direito à liberdade de expressão enquanto estes mesmos grupos ou alguns de seus membros são racistas. Homofóbicos ...? Ou vice-versa seja lá qual forem os grupos e os direitos esta possibilidade é eminente. Lembre-se, o argumento de que são alguns casos isolados e aquele blá-blá-blá trivial de que há pessoas boas e pessoas más em todos os lugares, não justifica. Em se tratando de direitos humanos ou estes direitos levam à igualdade que respeita as diferenças ou não são direitos humanos, fundamentais, universais, indivisíveis, interdependentes, exigíveis e justificáveis, como conceitua o Sistema Nacional de Direitos Humanos.
Evidentemente esta discussão abre um leque de conceitos e explicações que o espaço não nos permite aprofundar. Mas vale o convite à reflexão.
Por que um Dia da Mulher se há mulheres assassinas, drogadas, traficantes, mulheres que literalmente congelam seu filho recém nascido e o jogam na lixeira da rua, mulheres que roubam, que torturam, mulheres empresárias que pagam salários menores aos homens, mulheres que batem nos maridos, mulheres alcoólatras enfim fazem tudo o que há homens que também fazem. Não é o caso de se fazer uma pesquisa para dizer se há mais homens ou mulheres que cometem tudo isso. Não é preciso, porque cada ato discriminatório, violento e desumano, é, por si só, um ato injusto. Não importa quem cometeu. Estatísticas não justificam.
O que se deve tomar cuidado é com a banalização destas datas. Afinal, há muito tempo que para a grande maioria das pessoas, o terror e a violência se tornaram coisas comuns. A exceção vira norma e vice-versa, ou seja, ao invés de lembrarmos-nos das mulheres e seus direitos o ano todo, corremos o risco de fazer isso apenas em um dia do ano.
É preciso tomar cuidado para que o dia da mulher não se torne o único dia em que a própria mulher lembre que é mulher.
Deve-se tomar cuidado para que a luta pela igualdade, respeite as diferenças.
Por que precisamos de um dia da mulher? Ela não é ser humano? Penso que o dia da mulher deva sim continuar registrado no calendário, assim como o dia das mães. Mas gostaria que esse dia não fosse comemorado como comemoramos aniversário. Pois, assim como envelhecemos dia-a-dia, também deveríamos respeitar a mulher, o homem, a criança, o adolescente, o idoso, o meio ambiente todos os dias.
Se tudo isso passar de uma utopia desvairada, proponho ao menos que criemos mais uma data, o Dia Internacional do Ser Humano, pois durante os outros dias do ano poderemos continuar vivendo como animais. Ou corremos o risco de ficar aquém desta classificação?
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Comentários
Gostei do texto. Ao ler *não é preciso, porque cada ato discriminatório, violento e desumano, é por si só, um ato injusto" lembrei de Mahatma Gandhi, aquele que pregava a não violência,que também diz: "uma lei injusta por si só já é uma violência. Ser punido por descumpri-la, é uma violência ainda maior"
Valdir - 01/04/2012 21h07